Aurélio Fernando, um pedagogo Maior

27-04-2017 12:49

"Eternidade é a posse total, simultânea e completa da vida interminável”

Boécio

A brevidade e a fragilidade da vida – o ephémeros – confrontadas com a eternidade do tempo e o sentimento da sua escassez, foi um dos temas das meditações de Aurélio Fernando.

Procurar a eternidade é conhecer o movimento do tempo, esse tempo que não serve senão para acabar. Ao longo da sua vida, Aurélio Fernando procurou e pensou sobre este conhecimento.

Se o encontrou, não gastou palavras nem usou o verbo, permaneceu em silêncio, essa linguagem muda em que tudo se diz e entende.

Partilhou connosco muitas das suas reflexões, para que sobre elas partíssemos em demanda do nosso conhecimento sobre a eternidade, cada um no seu tempo, nem antes, nem depois:

APONTAMENTO de Aurélio Fernando

Quando o relógio bater meia-noite,

Vou arrancar-lhe os ponteiros,

E quebrar-lhe o mostrador:

- Não quero tempo, nem horas!

Quando puder subir pelos caleiros

Arrumarei os cataventos:

- Não quero espaço, nem fim!

Só dois momentos

Da mesma imagem:

- Eu

Dentro e fora de mim!

De resto,

São impressões de viagem!

 

Aurélio Fernando (1928-2016) foi um homem que viveu no seu tempo e, no seu tempo, foi um visionário e um empreendedor audaz.

Fundou e criou uma Escola, o Externato Delfim Ferreira e com ela deu uma nova vida a toda uma região e uma nova esperança a várias gerações, dedicando-se de corpo e alma à instrução de milhares de jovens, os novos heróis de Portugal.

Agraciado com a Comenda da Ordem da Instrução Pública, Aurélio Fernando foi um homem das letras, da espiritualidade, da religião e da Igreja.

Coerente, pragmático, rigoroso, fiel aos seus ideais e ao seu ideário, foi um mestre para alunos e professores, pedagogo, poeta, pai, avô.

Aos 88 anos de idade, Aurélio Fernando encontrou o Grande Trono que sempre ambicionou!

Deixa um património educativo, cultural e literário de valor incalculável, merecedores do maior reconhecimento da comunidade.

O seu cunho permanecerá em nós forjado e a sua voz continuará a ecoar nos corredores do Externato Delfim Ferreira, onde será sempre recordado como o Diretor do Colégio de Riba de Ave.

 

José Carlos Fernandes Pereira

Antigo Aluno (1990-1993)

Caldas da Rainha, 6 de fevereiro de 2017.