Um abraço ao pedagogo Dr. Josias Barroso*

26-04-2015 16:56
Por: José Carlos Fernandes Pereira

Juntem-se e formem um só”, Aurélio Fernando (2003)

Quem passa por este Colégio nunca se desencontra na vida”, Josias Barroso (2014)

Cerca de uma centena de antigos alunos, pais, encarregados de educação, professores, funcionários, amigos e familiares fizeram questão de dar um abraço ao Dr. Josias Barroso, num jantar convívio que teve lugar no dia 14 de março, numa unidade hoteleira em Santo Tirso, e que marcou a sua despedida do Externato Delfim Ferreira, instituição que frequentou desde tenra idade como aluno e que, mais tarde, serviu como diretor pedagógico e pedagogo durante quase quatro décadas.

De um modo espontâneo (como devem ser estes eventos) os promotores da iniciativa não quiseram deixar de partilhar este momento de reencontro, convívio e gratidão com as comunidades educativa e escolar, reconhecendo na personalidade íntegra e no trabalho do Dr. Josias a fidelidade ao Ideário do Colégio e aos seus fundadores, assim como a marca indelével que deixa em tudo o que representa hoje o património educativo do Externato Delfim Ferreira, uma instituição cinquentenária que disputa os seus resultados nos melhores lugares nacionais.

Através de vários professores, a Oficina de Poesia iniciou um conjunto de momentos que marcaram este jantar, dedicando ao Dr. Josias a leitura do conto “A Última Flor”, de James Thurber.

Seguiu-se uma apresentação fotográfica, com testemunhos de vários momentos da vida do Dr. Josias no Externato Delfim Ferreira, sucedida pela intervenção da Mariana Gonçalves, uma jovem aluna do 8.º ano (turma 8.4) que leu aos presentes uma mensagem que um antigo aluno quis deixar ao Dr. Josias.

Tivemos ainda a oportunidade de ouvir da antiga aluna Dr.ª Susana Pereira, atual presidente da Junta de Freguesia de Riba de Ave, uma mensagem de tributo que o Vereador com o pelouro da Educação da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Dr. Leonel Rocha, quis deixar neste momento ao antigo diretor do Externato Delfim Ferreira.

Como não há despedida sem recordações e presentes, foi oferecido ao Dr. Josias, além de um equipamento informático para que escreva as suas memórias, uma singela placa gravada e uma caricatura da autoria do Prof. Rui Maciel.

Numa intervenção emocionada e carregada de simbologia, o Dr. Josias retribuiu aos presentes o carinho do gesto, proferindo algumas palavras que mereceram o aplauso dos presentes, relembrando alguns dos momentos marcantes da sua passagem pelo Externato Delfim Ferreira.

No seu discurso, o Dr. Josias Barroso começou por vincar que este encontro não se trata de uma homenagem, pois muitas outras haveria a fazer, mas sim de um mero dia que, para si, será lembrado, singularmente, por tudo o que significa na sua vida. Dirigiu-se aos presentes como símbolos da “uma história e memória de pessoas que se ligam à corrente para vivenciar um colégio que nunca há-de falecer nem sequer morrer”. Continuou com uma alusão à sua história de 46 anos ligado ao colégio, primeiro como aluno, depois como diretor, referindo-se ainda à iniciativa pioneira do Doutor Aurélio Fernando, fundador do Colégio há mais de 50 anos, e do seu sócio Dr. Craveiro Lopes. Declarou que neste seu percurso de 37 anos como diretor desta instituição deu “o todo” de si sempre em tudo o que fez, nada em si tendo sobrado, sem que esse todo lhe fosse bastante.

Com uma notável modéstia e simplicidade, o Dr. Josias confessou-se mais devedor ao colégio do que este a si próprio, referindo-se ao que aprendeu e recebeu do seu fundador, o Doutor Aurélio Fernando: “um mestre é sempre um mestre e um discípulo é um discípulo enquanto mestre houver”. Dirigiu também uma palavra de reconhecimento aos professores e funcionários não docentes por tudo o que contribuíram por terem resolvido muitos problemas e, assim, ajudado na sua tarefa diretiva, reconhecendo-lhes alegria, empenho, dedicação e competência.

Referiu-se ao Colégio como um “templo de vida”, carregado de uma simbologia própria (hino, bandeira, ex-libris, homens), capaz de nos elevar a “seres verdadeiramente transcendentes”.

Dirigiu ainda uma palavra de gratidão aos pais que o acompanharam e ajudaram na tarefa educativa, integrando-se no projeto educativo.

Terminou com o reconhecimento mais profundo que um pedagogo pode ter, dirigido-se aos milhares e milhares de alunos, de quem confessou tanto ter precisado para que não esmorecesse e para que se reanimasse na tarefa educativa que abraçou, “porque a escola não é um terreno fácil porque se o fosse não gerava crescimento… Um crescimento autêntico traz com ele sempre dor”.

Após as palavras proferidas pelo Dr. Josias, a Dr.ª Catarina Guimarães, atual diretora do Externato, teve ainda a oportunidade de dirigir algumas palavras de reconhecimento ao Dr. Josias por todo o seu percurso.

O autor deste texto frequentou o Externato Delfim Ferreira durante três anos. Tal como muitos milhares de antigos alunos, saiu para a Universidade [1993] e para o mundo do trabalho. Passou a viver no Porto e, atualmente, mais a sul, nas Caldas da Rainha, trabalhando diariamente em Lisboa. Juntamente com outros antigos alunos, fundou, em 2002, a Associação dos Antigos Alunos do Externato Delfim Ferreira (www.aaaedf.pt), associação que vem promovendo, abnegadamente, um ideário e uma corrente intergeracional que mantém vivos os símbolos do Colégio e dá verdadeiro sentido ao que se designa de “património educativo”. Por vezes perguntam o que me faz mover, depois de tantos anos fora do Colégio?… É nos exemplos de pessoas íntegras e de grande caráter que, como os nossos fundadores, os nossos diretores, ou no abraço sincero daqueles nossos professores e funcionários, que, mais motivados por sentimentos do que por vencimentos, tanto deram de si antes de pensar em si, que encontro sempre as respostas certas para demonstrar a gratidão a uma instituição a quem tanto devemos pelo que hoje somos.

Não pode haver melhor prova de bom trabalho quando as pessoas passam mas instituições permanecem.

Um grato abraço ao Dr. Josias Barroso. Longa vida ao Colégio!

 

JCFP, 25/03/2015

*Nota: Pela primeira vez, desde 2003, a AAAEDF não tem um texto seu publicado no jornal Bocaberta. Alegando "a história desta instituição [Externato Delfim Ferreira] e os princípios que estão na base da criação deste jornal", a publicação deste texto foi recusada pela diretora do Bocaberta.